Áudios revelam disputa entre atual líder do PCC no garimpo e mulher de ex-chefe da facção morto em confronto

Áudios revelam disputa entre atual líder do PCC no garimpo e mulher de ex-chefe da facção morto em confronto
Presidente era conhecido por ter um perfil violento e de enfrentamento das polícias – Foto: Reprodução/Redes sociais

Um homem apelidado de “Escobar” é apontado como o novo chefe da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) que atua no garimpo na Terra Yanomami. De acordo com informações de fontes policiais de Roraima ao site UOL, ele assumiu a liderança da organização na região após a morte em abril deste ano de Sandro Moraes de Carvalho, de 29 anos, conhecido como “Presidente”.

Por atuarem no PCC, que comanda áreas de exploração ilegal no território, eles são denominados “garimpeiros faccionados”. Sandro Presidente, que era foragido da Justiça do Amapá por roubo qualificado, foi um dos quatro garimpeiros mortos em confronto com agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Ibama.

Na ocasião, foram apreendidos armas de grosso calibre, munições, carregadores e outros equipamentos bélicos. Ele e seus comparsas atacaram a tiros as equipes durante fiscalização na região de garimpo conhecida como “Ouro Mil”, dentro do território, na região de Waikás, onde há forte atuação de invasores e grupos criminosos.

Em um áudio atribuído a Escobar obtido pela polícia, ele mobiliza garimpeiros para que deixem as áreas em que estavam atuando. “Chegou uma notícia aqui para nós que diz os policia [sic] vão entrar de novo na nossa mesma área”, diz.

Escobar era homem de confiança de Presidente. Antes de assumir a liderança da facção, foi “segurança” dos garimpos no território indígena. Esse tipo de serviço geralmente é feito por grupos associados ao crime organizado, segundo pesquisadores e investigadores.

Outros áudios recebidos por fontes ligadas à polícia indicam que Escobar tomou a liderança dos negócios da facção após a morte de Presidente, mas está em disputa com a então companheira do ex-chefe. O crime organizado divide Roraima em 19 regionais — cada uma delas teria um líder diferente do PCC. Na gravação, o suspeito identificado como Escobar faz referência à “regional 019”, a área onde se concentra o garimpo.

Nas redes sociais, criminoso publicava vídeos com armas, colares, pulseiras e barras de ouro – Foto: Reprodução

Presidente tinha uma atuação mais forte e era parte do Grupo dos 14, que reúne quem ocupa as posições hierárquicas mais altas da facção no Estado — e controla as atividades tanto na capital quanto no interior.

“Opa minha quadrilha do coração, boa noite, um forte e sincero abraço do Escobar, beleza? Aqui da 019, região garimpo. Chegou uma notícia aqui para nós que diz os policia vão entrar de novo na nossa mesma área. Só que eles vêm em peso, diz eles vêm em peso, com 200 policiais. Nesse exato momento, tô tirando todo o pessoal que ficou aqui. Já tá vindo uma canoa de apoio aqui nesse exato momento e vou tirar todo mundo aqui da terra, entendeu?” Conforme as investigações, esta transcrição é atribuída a Escobar.

‘Tribunais do crime’

A morte de Presidente provocou uma disputa por áreas, armas e lucros que pertenciam a ele. Áudios obtidos pela reportagem do UOL indicam que o destino de armamentos, quantias financeiras e terras do ex-líder seriam decididos pelos chamados “tribunais do crime” — instâncias mediadoras de conflitos com poder para tomar decisões. O áudio atribuído à sua companheira questiona se as “terras” e “armas” de Sandro Presidente serão enviadas à sintonia — outra forma de se referir ao tribunal do crime. Em outro momento da gravação, ela diz que colocou pessoas para proteger territórios e balear quem tentar interromper o bloqueio.

Morte de Presidente provocou uma disputa por áreas, armas e lucros – Foto: Reprodução/Rede social

“Já deixei os caras no apoio lá, que não é para entrar nem sair de lá. Tu tá querendo botar a terra do Sandro, as armas na sintonia? Me explica aí. Não precisa ficar preocupado. Já botei os meninos lá embaixo. Qualquer canoa que entrar lá os meninos vão meter bala, pode ser quem for. Já deixei bem claro para os caras. Se molhar pra tu, se molhar pra mim, vai molhar pra todo mundo [sic]”, diz a mulher de Presidente.

O bandido era conhecido por ter um perfil violento e de enfrentamento das polícias. Nas redes sociais, ele publicava vídeos com armas, colares, pulseiras e barras de ouro.

Mortos e foragidos

Os confrontos que deixaram ao menos 14 mortos em uma semana em Roraima expõem a atuação de organizações criminosas como o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o CV (Comando Vermelho) na Terra Yanomami. Forças policiais federais e estaduais intensificaram as investigações para combater a presença desses bandos que atuam na região. Atualmente, há cerca de 50 foragidos vinculados a facções em território de garimpo.

Segundo fontes ligadas à Segurança Pública de Roraima, antes das operações do governo federal para a saída dos garimpeiros, havia ao menos cem deles ligados ao PCC atuando nas áreas. Facções criminosas utilizam a estrutura logística da extração ilegal do ouro, administram casas de prostituição e pontos de comércio de drogas no garimpo. O lucro que obtêm nessas atividades faz esse grupo de faccionados resistir à saída do local.

O PCC tem uma atuação hegemônica no Estado, já o Comando Vermelho atua de forma “discreta”. As operações da facção de origem carioca estão concentradas nos municípios de Mucajaí e Alto Alegre. A atuação do PCC é mais pulverizada e horizontalizada do que o CV. Segundo o pesquisador e sociólogo Rodrigo Chagas, que atua na região, a facção conta com “prestadores de serviços” que não precisam ser necessariamente “batizados” pela organização.

“Tendemos a entender que a maioria [dos garimpeiros] que buscava alternativas econômicas, já se retirou. Aqueles que se recusam a sair podemos presumir que são os mais resistentes e têm mais o que perder”, destaca Beatriz Matos, do Ministério dos Povos Indígenas.

*Com informações do UOL

https://oanalitico.com.br/policia/2023/05/01/garimpeiro-morto-em-confronto-com-prf-e-ibama-na-terra-yanomami-era-chefe-de-faccao-e-foragido/

https://oanalitico.com.br/policia/2023/05/16/garimpeiros-atacam-posto-de-fiscalizacao-na-terra-yanomami-e-trocam-tiros-com-agentes-da-forca-nacional/

https://oanalitico.com.br/policia/2023/05/15/expulsos-da-terra-yanomami-garimpeiros-pretendem-invadir-regiao-dos-wai-wai/

https://oanalitico.com.br/policia/2023/05/15/ibama-queima-acampamento-avioes-e-barcos-de-garimpeiros-ilegais-regiao-teve-conflito-com-morte-de-tres-indigenas/

Por Redação

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