Itamaraty afirma a parlamentares de Roraima que já iniciou negociações para liberar entrada de cargas na Venezuela
Em reunião nesta segunda-feira (19), o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, recebeu os deputados estaduais Soldado Sampaio (Republicanos), Marcos Jorge (Republicanos), Catarina Guerra (União), Gabriel Picanço (Republicanos) e Éder Lourinho (PSD), além do deputado federal Albuquerque (Republicanos) e dos senadores Hiran Gonçalves (Progressistas), Chico Rodrigues (PSD) e Mecias de Jesus (Republicanos) para tratar da suspensão da importação por parte da Venezuela de mercadorias brasileiras.
O ministro garantiu aos representantes de Roraima que uma comitiva de servidores dos ministérios da Agricultura e de Relações Exteriores já está na Venezuela para uma reunião com a vice-presidente Delcy Rodriguez.
Segundo ele, Rodriguez afirmou que vai receber os brasileiros para negociar a liberação das cargas, possivelmente após uma vistoria. O chanceler disse ainda que falou diretamente com a vice-presidente por telefone.
“Para a reunião, concentramos nossos pedidos na parte de carne e frango que têm documentação vastíssima, com todas as inspeções do Ministério da Agricultura e que servem para os mercados do mundo inteiro, e por que não para a Venezuela? Até quarta-feira, 21, deve acontecer uma inspeção conjunta nas cargas com documentação”, disse o ministro.
Mauro Vieira deixou claro aos parlamentares que acredita que o embargo se deu como consequência de anos do que chamou de “não diplomacia”. O ministro lembrou que a embaixada brasileira na Venezuela foi fechada pelo governo Bolsonaro, interrompendo uma relação de quase duzentos anos de diplomacia. Ele garantiu que está trabalhando na reabertura. “Isso [o embargo] aconteceu porque não temos ninguém lá para dialogar”.
A reunião com os parlamentares foi acompanhada pela secretária de América Latina e Caribe, Gisela Padovan, que explicou que, além da negociação para liberação das cargas, a comitiva brasileira pretende dialogar sobre problemas também de médio e longo prazo.
“Em médio prazo, estabelecer condições de previsibilidade para que os empresários brasileiros possam ter claro os parâmetros para exportação, e, a longo prazo, discutir o acordo de cooperação que temos com a Venezuela para realmente almejarmos a retomada dos níveis de comércio que já tivemos no passado”, disse Padovan.
Para o presidente da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR), Soldado Sampaio, é preciso esclarecer as mudanças na importação estabelecidas pela Venezuela e informar com antecedência o empresariado brasileiro. Segundo ele, não houve um comunicado oficial sobre mudanças nas regras.
“De maneira repentina, criaram-se embargos e hoje nós temos quase quinhentas carretas de alimentos parados na fronteira ou em torno da BR-174 aguardando a abertura dessa relação comercial. Boa parte desse produto sai do Sul do país, leva de 20 a 30 dias para chegar a Roraima, ou seja, essas carretas já estavam a caminho. Então, estamos pedindo que o governo brasileiro faça intermediação junto ao governo venezuelano para que abra a fronteira e receba essa mercadoria”.
Os deputados Eder Lourinho, Gabriel Picanço, Marcos Jorge e Catarina Guerra endossaram o pedido de Sampaio.
Marcos Jorge destacou o aumento na arrecadação de impostos nos últimos anos, sendo boa parte fruto da exportação de produtos para a Venezuela. “Precisamos nos preocupar com o empresário roraimense, já que nós aumentamos em 20 vezes a exportação a partir de Roraima nos últimos quatro anos. Nós não podemos ter uma barreira comercial porque não há nenhum tipo de problema no nosso produto. O Brasil exporta para o mundo inteiro, então é na verdade uma decisão política”, destacou.
A deputada Catarina Guerra afirmou que a união política em torno do assunto vai acelerar o debate e, consequentemente, a solução do problema. “Essa agenda de diálogo, envolvendo os ministérios correlatos, vai facilitar o entendimento. Estaremos juntos e vigilantes”. O deputado Gabriel Picanço lembrou que está em Brasília a competência para resolver a liberação das mercadorias. “Viemos para cá porque nós não podemos deixar os empresários sozinhos, à mercê de uma solução que pode demorar e provocar ainda mais prejuízos. Deixamos claro ao chanceler que precisamos de uma solução com rapidez”.
Bancada federal
A reunião com o ministro Mauro Vieira foi solicitada pelo senador Hiran Gonçalves, líder da bancada federal de Roraima. Ele começou falando dos prejuízos provocados pelo embargo na fronteira, mas acrescentou que o Estado tem sido porta de entrada de imigrantes venezuelanos há anos, de forma amistosa e pacífica.
“Mesmo com tudo que já fizemos pelos imigrantes, essa parada unilateral e sem explicação das importações brasileiras, de produtos de qualidade reconhecida em todo o mundo, nos preocupa muito. Nós pedimos uma posição clara e firme do governo brasileiro nessa negociação.”
O senador Mecias de Jesus disse que saiu satisfeito da reunião e que acredita em uma solução ainda nesta semana. “O chanceler nos garantiu que está em conversas avançadas e que essa demanda poderá ser resolvida a qualquer momento, até quarta ou quinta-feira. Os empresários podem ter a convicção de que a bancada federal de Roraima e os deputados estaduais estão trabalhando para reduzir prejuízos”.
O senador Chico Rodrigues enfatizou a importância da reabertura da embaixada brasileira na Venezuela, até para garantir a proteção dos brasileiros que vivem no país vizinho. “Tenho dialogado com o governo para a retomada da embaixada, o Brasil e a Venezuela possuem uma relação comercial importante que precisa ser considerada.”
Entenda o caso
A situação de empresários impedidos de entrar com cargas na Venezuela e com risco de perda dos produtos devido ao prazo de vencimento desde o início de junho, se tornou pauta na Assembleia Legislativa com debates em plenário e na Comissão de Relações Fronteiriças, Mercosul, de Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação. Preocupados, os parlamentares buscaram junto à bancada federal espaço para dialogar com a União.
Na sexta-feira (16), toneladas de alimentos embutidos foram doados à população em forma de protesto pelo embargo. Empresários falam em prejuízos milionários.
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