Etnia Yanomami registra menor número de recém-nascidos em cinco anos; líder indígena culpa presença de garimpeiros

Etnia Yanomami registra menor número de recém-nascidos em cinco anos; líder indígena culpa presença de garimpeiros
Atualmente, de uma população estimada em 30 mil pessoas, apenas 890 são crianças com menos de 1 ano, segundo relatório do Centro de Operação de Emergências – Foto: Nelson Almeida/AFP

Diante de uma crise humanitária declarada no início do ano, a etnia Yanomami registrou em 2023 o menor número de bebês vivos desde 2018, excluindo o ano de 2021, que sofreu os efeitos da pandemia de covid-19.

Atualmente, de uma população estimada em 30 mil pessoas, apenas 890 são crianças com menos de 1 ano, segundo um relatório do Centro de Operação de Emergências (COE), mobilizado em janeiro para organizar as estratégias de resposta e medidas de saúde pública na Terra Indígena Yanomami (TIY).

O número caiu em comparação aos 1.121 bebês de menos de 1 ano registrados pelo governo no ano passado. Também é menor em comparação a 2020, 2019 e 2018, ano em que começou a sistematização do número de crianças Yanomami pelo Ministério da Saúde. Em 2021, o total foi de 758 bebês.

O governo federal declarou emergência em saúde no território Yanomami em 21 de janeiro deste ano. Com a medida, a população indígena passou a contar com a presença das Forças Armadas e reforço do Sistema Único de Saúde (SUS) no território.

Líder indígena e presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena da Terra Yanomami, Júnior Hekurari Yanomami acredita que as aldeias levarão anos para se recuperar dos efeitos da crise sanitária.

“Os Yanomami foram abandonados nos últimos sete anos. Houve um colapso na saúde indígena com o avanço de invasões no território. Muitos garimpeiros entraram e contaminaram o solo e água, levaram malária. Oito meses não são suficientes para consertar a saúde Yanomami”, avalia.

Desnutrição e malária

Indígena de Aracruz, Espírito Santo, Ana Caroline Marques foi, por meses, a única médica da Unidade Básica de Saúde (UBS) de Auaris, região do território Yanomami. Atuante nas comunidades desde 2022, ela afirma que testemunhou um “claro abandono” e falta de assistência sanitária.

“O início do ano estava mais crítico. Não havia remédios, materiais, nada. Tiramos do bolso, fazíamos vaquinha. Está melhorando, mas ainda há casos assim, que vão desde desnutrição a insuficiências respiratórias graves”, alertou.

De acordo com o Ministério da Saúde, de 2019 a 2022, houve 505 mortes de crianças com menos de 1 ano no território. As principais causas da morte são desnutrição e malária.

“É um território grande, são muitas comunidades, e temos regiões desassistidas. Há períodos em que temos um fluxo muito elevado de atendimentos. No início de janeiro, lembro de uma semana em que tivemos mais de 200 casos de malária”, conta a médica.

A diminuição da base da pirâmide etária indica queda na natalidade e tende a provocar o envelhecimento da população. Esse fenômeno, somado a doenças que levam a mortes, tem colocado a população em risco.

De acordo com Ministério da Saúde, de 2019 a 2022, houve 505 mortes de crianças com menos de 1 ano no território. Principais causas da morte são desnutrição e malária – Foto: Reprodução

O Ministério da Saúde considera os casos de malária e desnutrição ainda como “desafios estruturais” e diz que, apesar de melhorias, o trabalho está longe de acabar.

“Ainda há desafios estruturais, como os graves casos de desnutrição e malária. Este estão sendo tratados progressivamente na medida em que a desintrusão cria condições para a estruturação das unidades de saúde e investimentos no saneamento da região. Foi criando ainda um plano de combate à malária que inclui busca ativa para encontrar indígenas contaminados, bem como um aumento substancial na testagem realizada”, destacou a pasta.

O Ministério dos Povos Indígenas informou que segue empenhado em garantir assistência ao povo Yanomami, a partir do trabalho conjunto com outros ministérios, mas ressalvou que “o descaso de anos” que causou a crise sanitária, ambiental e humanitária no território indígena “traz consigo especificidades que exigem maior tempo de recuperação, como por exemplo a contaminação de mercúrio nas águas dos rios”.

Nas últimas idas ao Congresso para falar sobre o tema, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, disse que a crise dos Yanomami só terá fim após a retirada de todos os garimpeiros ilegais. A expectativa dela é que todos os invasores sejam expulsos até dezembro.

A extração do ouro começou a crescer em 2016, ganhando força na gestão Bolsonaro (2019-2022). A atividade ilegal cria lagoas de água parada que servem de criadouros de mosquitos, provocando casos de malária. Além de contaminar a água com substâncias químicas, o garimpo causa o assoreamento de rios. Assim, crescem os registros de diarreia.

Com informações de O Globo

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Por Redação

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