Estudo mostra domínio de facções venezuelanas em Roraima e disputa com bandos brasileiros

Estudo mostra domínio de facções venezuelanas em Roraima e disputa com bandos brasileiros
Venezuelanos atuam no tráfico em área onde há presença do PCC em Boa Vista Foto: Rodrigo Chagas/Arquivo pessoal

O estudo Cartografia da Violência na Amazônia, divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) esta semana, aponta que organizações criminosas venezuelanas estão cada vez mais infiltradas em cidades de Roraima. Os grupos disputam território com facções brasileiras em Boa Vista, com população de mais de 410 mil moradores.

Com presença hegemônica do Primeiro Comando da Capital (PCC), o Estado tem importância estratégica para o tráfico de drogas por fazer fronteira com a Venezuela e estar próximo da Colômbia.

O município de Pacaraima, no Norte de Roraima, fronteira com a Venezuela, é disputado por PCC, Comando Vermelho (CV) e pelo grupo venezuelano Trem de Aragua, segundo o relatório do Fórum. Conforme investigações do promotor de Justiça Felipe Hellu Macedo, outro grupo internacional atua no território, o Sindicato do Crime, que tem presença nas dinâmicas criminais da cidade.

Segundo o promotor, uma investigação prendeu cinco líderes da facção venezuelana em 2019. As sentenças foram proferidas em 2022. “Nesse processo, não havia nenhum brasileiro envolvido”, informou.

Há elementos que sugerem ligação do Sindicato do Crime com o PCC, apesar de não haver registros oficiais nas investigações. Isso porque a presença hegemônica da facção paulista no Estado e a ausência de registros de mortes violentas indicariam a inexistência de uma disputa acirrada entre as facções.

Em Pacaraima, o Sindicato do Crime teria participações em crimes patrimoniais e no tráfico de drogas e armas.

“Têm ocorrido muitos furtos e roubos, mas não é possível saber se todos têm relação com a atuação das facções criminosas”, diz o promotor.

A atuação de facções venezuelanas em Pacaraima também está relacionada às rotas de fuga existentes.

“É mais fácil de fugirem por rotas lícitas e ilícitas em regiões de fronteira”, afirma o promotor de Justiça.

As facções venezuelanas Trem de Aragua, Trem de Guayana e Sindicato do Crime estão presentes em Boa Vista. A informação consta no estudo do FBSP.

Hellu relata que os “tribunais do crime” (julgamentos realizados pelo PCC) ocorrem “nos mesmos moldes” que a facção paulista organiza os “rituais” em São Paulo. A diferença, segundo ele, é a violência extrema utilizada — nesses rituais, costumam ser arrancadas partes do corpo de pessoas em débito com as facções.

O promotor de Justiça Carlos Alberto Melotto informa que não foi acionado para investigações envolvendo facções venezuelanas em Roraima.

“Sabemos que há venezuelanos em situações criminais, fazemos audiências com eles, mas não há elementos que demonstrem a presença de facções venezuelanas no Estado até o momento.”

Em agosto de 2020, o Ministério Público de Roraima (MPRR) denunciou 19 pessoas de origem venezuelana batizadas pelo PCC. As fichas de batismo foram obtidas a partir de anotações encontradas na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc). A operação foi a primeira a vincular o PCC a venezuelanos no Estado, de acordo com o promotor.

Há presença de venezuelanos atuando no comércio de drogas em bairros da capital roraimense. Segundo Melotto, eles se filiam ou são batizados pelo PCC e passam a atuar como “soldados” nas ruas.

Facções peruanas e bolivianas no país

O Clã-Chuquizuta atua em Tabatinga, Amazonas, na fronteira com o país vizinho. O grupo é oriundo de Santa Rosa de Yavari, Peru, na zona da tríplice fronteira. O Comando de Las Fronteras, outra facção peruana, está presente na Colômbia e em Loreto, no Maranhão.

A facção Los Quispe-Palamino está na fronteira entre o Peru e o Acre. Também foram identificados grupos próximos aos rios Negro e Solimões, uma das principais rotas usadas pelo tráfico.

A pesquisa também identificou a presença de pequenos grupos bolivianos em Plácido de Castro, Acre. O maior deles é o Clã Dourado, na fronteira entre Acre e Rondônia.

Disputa por território na Amazônia

Integrantes de ao menos dez facções de quatro países vizinhos cruzaram a fronteira para travar disputas por território na Amazônia Legal, indica o estudo divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

PF apreendeu drogas e fuzis com colombianos em Rorainópolis em agosto deste ano – Foto: Divulgação/PF

Essas facções estrangeiras estão no Acre, Amazônia, Maranhão e Roraima, indica o levantamento.

O estudo aponta que há quatro grupos de ex-guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) concentrados no Amazonas. Eles estão na mira das autoridades colombianas, brasileiras e norte-americanas por suspeita de dominar uma rota pelo rio para negociar com o PCC e CV, as duas principais facções brasileiras.

Mensagem vazada aponta que o CV tem a função de “recuperar rotas no Amazonas”. São e-mails do Ministério Público da Colômbia, que indicam que os grupos estrangeiros cruzam a fronteira de barco pelo rio Vaupés e seguem pelo rio Negro, no Amazonas.

Já o PCC é citado como aliado de narcotraficantes no sul da Colômbia e disputa território com o CV, cita o documento.

Esses dados fazem parte do “Narco Files: a nova ordem do crime”, investigação jornalística transfronteiriça da qual o UOL fez parte. O projeto foi liderado pelo Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP) em parceria com o Centro Latinoamericano de Investigación Periodística (CLIP).

O que dizem os pesquisadores

“Diante da dificuldade de levar a droga para os Estados Unidos ou países da Europa, as facções de outros países entraram na Amazônia para negociar com o mercado brasileiro. Esse avanço também está relacionado à presença de locais estratégicos da rota do tráfico. Entre esses grupos, há ex-guerrilheiros colombianos das Farc, peruanos, venezuelanos e bolivianos”, destaca Aiala Couto, pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

“Os ex-guerrilheiros das Farc usam lanchas frequentemente para traficar drogas da Colômbia pelo rio Negro. Esses grupos também costumam extorquir garimpeiros no Brasil”, diz Bram Ebus, coordenador de Investigação de Amazon Underworld e consultor do International Crisis Group.

Com informações do UOL

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Por Redação

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