Governo federal lança edital no valor de R$ 3 milhões para diminuir impacto das drogas entre povos indígenas

Governo federal lança edital no valor de R$ 3 milhões para diminuir impacto das drogas entre povos indígenas
Edital garante financiamento de projetos de desenvolvimento sustentável em territórios indígenas ameaçados pelo narcotráfico e pelo crime organizado – Foto: Antônio Cruz/ Agência Brasil

Os ministérios da Justiça e Segurança Pública (MJSP) e dos Povos Indígenas lançaram, nesta segunda-feira (5), em Brasília, edital no valor de R$ 3 milhões para financiar projetos de desenvolvimento sustentável em territórios indígenas ameaçados pelo narcotráfico e pelo crime organizado.

O edital será coordenado pela Secretaria Nacional de Política sobre Drogas (Senad) do MJSP, que, pela primeira vez, constrói uma política voltada às populações indígenas, de acordo com a titular da Senad, Marta Machado.

A secretária enumerou as consequências da atuação do crime organizado aos povos originários, que precisam ser prevenidas e combatidas com urgência.

“O agravamento dessa situação impõe às populações indígenas uma série de violências, ameaças, coações, assassinatos de lideranças, violência e exploração sexual, trabalho forçado em atividades ilícitas, cooptação de jovens para o tráfico, disponibilização indevida de drogas em seus territórios. O avanço das organizações criminosas sobre as terras indígenas também impacta em questões de saúde, como doenças e distúrbios associados ao abuso do álcool e de outras drogas”, afirmou.

Novo edital 

Lançado para reduzir o impacto do narcotráfico em populações indígenas, o edital vai financiar os trabalhos de organizações indígenas e comunitárias. São três os eixos de atuação:

– enfrentamento de situações de vulnerabilidade social de jovens e adultos indígenas, por meio da geração sustentável de renda e participação social;

– prevenção de violência sexual física simbólica contra mulheres indígenas ou a mitigação dos efeitos dessas violências com ações de acesso a direitos para proteção, amparo e acolhida;

– redução e prevenção de invasões territoriais por narcotraficantes e outras redes criminais.

“Entendemos que as ações de repressão que vêm sendo retomadas e conduzidas pelas polícias devem andar simultaneamente com as de acesso a direitos e de desenvolvimento social e humano que fortaleçam as comunidades e as tornem mais resilientes”, esclarece Marta Machado.

A presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, presente no evento, reconheceu a fragilidade histórica na proteção dos territórios indígenas contra o narcotráfico e disse entender que a instituição poderá contribuir para a construção de políticas indígenas dentro da rede governamental.

“Quem mais que poderá orientar todas essas propostas de projetos, como o único órgão indigenista federal do nosso país, que tem a expertise nessa diversidade que estão os povos indígenas, mas também tem uma atuação local? A Funai, nesse governo, tem se colocado na mesa para o diálogo e propostas”, ressaltou.

Estratégia Nacional 

O lançamento do edital para financiar projetos de desenvolvimento sustentável em territórios indígenas ameaçados pelo narcotráfico faz parte da Estratégia Nacional para Mitigação e Reparação dos Impactos do Tráfico de Drogas sobre Populações Indígenas e Etnoterritórios.

A estratégia é fruto da articulação de nove ministérios e pretende proteger e garantir a segurança de populações indígenas e de comunidades tradicionais, além de ampliar o acesso a direitos pelas comunidades e, por fim, reparar as violências sofridas por esses grupos, relacionadas ao tráfico de drogas e atuação de organizações criminosas.

Marta Machado, ao citar o ambientalista Ailton Krenak, ratificou os conflitos vividos mais fortemente em anos mais recentes.

Presidente da Funai, Joenia Wapichana, reconheceu fragilidade histórica na proteção dos territórios indígenas Foto: Antônio Cruz/ Agência Brasil

“Nunca houve paz para os povos indígenas. A invasão de seus territórios nunca cessou. Mas, nos últimos anos, o crescimento e a interiorização da ação de organizações criminosas e do narcotráfico deram ensejo ao agravamento dessa situação.”

A diretora do Departamento de Proteção Territorial e de Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), a antropóloga Beatriz de Almeida Matos, viúva do indigenista Bruno Pereira, morto em junho de 2022, entende que o narcotráfico nos territórios indígenas é um problema nacional, que tem se alastrado. Mas, que o edital anunciado nesta segunda-feira, poderá reduzir o problema.

Para ela, a criação do Comitê Gestor da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas, em abril deste ano, durante o Acampamento Terra Livre, ressalta a atuação do MPI na busca de soluções. “O comitê coloca o Ministério dos Povos Indígenas no centro dessa definição, criação, reflexão e monitoramento dessas políticas voltadas aos povos indígenas, inclusive, políticas de segurança pública. O que é algo inédito no país.”

Homenagem 

No início da cerimônia, um vídeo foi exibido com o indigenista brasileiro Bruno Pereira cantando a música indígena “”Wahanararai”, no idioma Kanamari, ao lado de indígenas, no meio da mata.

Além de Bruno e Dom Phillips, as imagens homenagearam outros defensores dos direitos humanos e do meio ambiente mortos no Norte do Brasil, como o líder seringueiro Chico Mendes, em 1988, e a missionária católica norte-americana, Dorothy Mae Stang, em 2005.

Beatriz Matos agradeceu a homenagem aos mortos e realçou a luta deles por promoção e respeito aos direitos humanos.

“Acho que essa é a verdadeira justiça que esperam Bruno, Dom, Maxciel [Pereira dos Santos], e todos os que foram citados, como Chico Mendes, e Dorothy Stang, como lutadores pelos direitos humanos dos povos indígenas. A verdadeira justiça não é só a não impunidade, ou seja, que o crime seja de fato punido, mas também que a gente consiga possibilitar, de verdade, a segurança e a vida desses povos e das pessoas que trabalham com eles”.

*Com informações da Agência Brasil

https://oanalitico.com.br/politica/2023/06/05/indigenas-acampam-em-brasilia-contra-pl-do-marco-temporal-em-boa-vista-concentracao-ocorre-no-centro-civico/

https://oanalitico.com.br/politica/2023/06/05/assassinato-de-bruno-e-dom-revelou-fragilidade-da-protecao-aos-indigenas-afirma-presidente-da-funai/

https://oanalitico.com.br/politica/2023/06/01/apos-aprovacao-de-marco-temporal-ministra-afirma-que-pautas-indigenas-e-demarcacoes-permanecem-de-pe/

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Por Redação

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